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Encontro Latino de Cultura e Socioeconomía
Solidárias
PORTO ALEGRE (Brasil), agosto de 1998
CARTA DE PORTO ALEGRE
Nós fazemos parte de organizações e entidades
da socioeconomía solidária. Vimos trabalhando
há muitos anos em cooperativas e grupos
associativos urbanos, industriais e de serviços,
rurais e de produção agrícola, empresas
autogestionárias, organizações sindicais,
redes de comercialização, centros educativos,
associações de solidaridade recíproca e
governos locais. Como um passo adiante neste
processo, nos encontramos para reforçar ainda
mais as redes de intercâmbio e cooperação, e
ao mesmo tempo avaliamos nossa eficácia, os
efeitos e o significado profundo do que estamos
fazendo.
Somos mais de cem
pessoas mulheres, homens, jovens,
crianças trabalhadoras, profissionais de vários
campos, trabalhadores rurais, urbanos e
representantes de governos locais, de ambos os
lados do Atlântico. Procedemos de povoações,
comunidades e de nações da América Latina
(Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Cuba,
Chile, Equador, México, Nicarágua, Peru,
Uruguay e Venezuela) e da União Européia
(França e Estado Espanhol).
Juntos constatamos
que, apesar da distância e das distintas
circunstâncias das nossas respectivas
realidades, o peso da economia capitalista
globalizada e do seu modelo de funcionamento
comporta semelhantes situações de injustiça
social e econômica e implica uma ameaça
permanente à vida da humanidade e do Planeta.
Este modelo
econômico gera desemprego crescente e
generalizado, formas antigas e novas de
exploração, especialmente da infância, dos
jovens e das mulheres, situações de miséria e
carência dos meios materiais básicos para uma
vida digna dos seres humanos. Além da
insatisfação, da falta de perspectivas, do
desperdício dos talentos e valores de milhões
de pessoas que só são consideradas como meros
objetos de produção consumo e tributação,
juntamente com a destruição da diversidade
cultural e do meio ambiente.
Por que não
sermos protagonistas de um trabalho criativo e
satisfatório, que esteja livre de toda opressão
e exploração e que produza aquilo que nos faz
falta para satisfazer todas as nossas
necessidades, culturais, físicas, espirituais,
afetivas e relacionais?
Por que produzir
só em função de um mercado injusto, depredador
e especulativo, renunciando a gerir a produção
e a economia a serviço de nós próprios, de
toda a cidadania e de todos os povos do nosso
Planeta, assim como das gerações futuras?
Por que delegar a
gestão de âmbitos tão importantes das nossas
vidas, como a saúde, a educação, o urbanismo,
a moradia, o trabalho e a gestão dos nossos
recursos econômicos?
Por que
subordinar-nos aos ditames das empresas
transnacionais, aos Estados e instituições
internacionais identificadas com interesses
corporativos e excludentes se, com nossa união e
força coletiva, podemos conformar espaços
públicos, Estados e outras organizações a
serviço do empoderamento da sociedade,
para que esta se transforme em protagonista do
seu desenvolvimento de forma autônoma e
autosustentável?
Nossa proposta é
a socioeconomía solidária como forma de viver
que abrange a integralidade do ser humano e que
anuncia uma nova cultura e uma nova forma de
produzir para satisfazer as necessidades de cada
ser humano e de toda a humanidade.
Constatamos que
nossas experiências têm muitas coisas em comum:
motivações de justiça, lógicas de
participação, criatividade e processos de
autogestão e autonomia. Pudemos comprovar a
força real que têm as pessoas e comunidades
humanas quando:
- empreendem
iniciativas de produção com um sentido
positivo do trabalho, para desenvolver-se
plenamente como pessoas livres, que sabem
por que e para que trabalham e produzem,
e para responder as necessidades de toda
a população respeitando a natureza;
- se organizam
e decidem controlar o destino de todos os
seus recursos, inclusive os financeiros;
- se organizam
e coodenam para exercer o enorme poder
que supõe consumir de maneira consciente
e sustentável, controlar a qualidade dos
produtos e serviços e promover
relações econômicas justas,
solidárias e responsáveis em todos os
elos da cadeia de produzir, distribuir,
comercializar e consumir;
- vivem como
pessoas coerentes que vão se
transformando e mudando suas atitudes e
modos de relação, paralelamente à
ação que empreendem pela
transformação social.
Acreditamos que
como as nossas, há um sem-número de
experiências positivas em todo o mundo, que
propõem mudanças de funcionamento importantes
na forma de participar na economia, na cultura,
na política e, em geral, nas relações da
sociedade.
Por isso queremos
compartilhar com todas as pessoas que já estão
comprometidas e motivadas neste sentido e
recordar a importância de nos articularmos e
reforçarmos nossas experiências. E, àqueles
que ainda não o estão, animá-los a que se
organizem livremente junto aos seus concidadãos
e condidadãs para fazer uma sociedade em que
seja possível desfrutar da vida, construir
relações solidárias e irmãs e sorrir cada
manhã porque estamos assumindo a
responsabilidade de gerir nossas vidas e
enchê-las de sentido e de amor.
PARTICIPANTES
NO ENCONTRO LATINO DE
CULTURA E SOCIOECONOMIA SOLIDÁRIAS
Porto
Alegre, 9-8-98
O Encontro de
Porto Alegre foi promovido pelas seguintes
entidades:
- Aliança
por um Mundo Responsável e Solidário -
Canteiro de Socioeconomía Solidária
- CASA -
Coletivo Autônomo de Solidariedade
Autogestionária, Rio Grande do Sul,
Brasil
- CASAL -
Colectivo Autónomo de Solidaridad con el
Area Latina, Espanha
- FACCTA -
Federación Autónoma de Cooperativas
Catalanes y de Trabajo Asociado,
Cataluña.
- FCTAC -
Federación Cooperativa de Trabajo
Asociado de Cataluña
- PACS -
Instituto de Políticas Alternativas para
o Cone Sul, Rio de Janeiro, Brasil
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